Fruto de um projeto multidisciplinar desenvolvido durante minha graduação, o abridor dirô foi uma resposta inovadora ao desafio de criar um novo design para um produto tão tradicional. Todo o trabalho foi feito sob a supervisão do Laboratório de Ergonomia e Interfaces da UNESP.
ETAPAS DO PROJETO 
uma linha com as etapas do projeto. Da esquerda para a direita, lê-se: pesquisa, conceito, protótipo e validação
◆​​​​​​​    PESQUISA    ◆​​​​​​​
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Um abridor de latas e garrafas é um item presente em toda e qualquer casa. É facilmente encontrado em lojas e mercados, geralmente com um preço muito baixo e uma aparência que não varia muito. Todos nós já usamos esse objeto de inox e sabemos como ele pode ser desconfortável. Em geral, ele é fino, com uma área pequena para apoiar os dedos, não oferece apoio para a palma da mão e obriga o usuário a colocar força no polegar e no indicador enquanto move o punho repetidamente para que a lata seja aberta. 
Diante desse cenário, os professores da matéria de Ergonomia II nos desafiaram a desenvolver um protótipo que respondesse à essas questões, trazendo melhorias para esse produto e tornando-o mais amigável para usuários que tenham algum tipo de lesão nos dedos, mãos e punhos.
TESTES DE USABILIDADE NO ABRIDOR COMUM
Parte fundamental para a definição das diretrizes do projeto foi a aplicação de testes de usabilidade em um abridor de latas comum de inox. Com esses dados conseguimos mapear quais eram as deficiências desse utensílio, o que tornou o processo de geração de ideias muito mais coerente e centrado nas necessidades reais dos usuários. 
Aplicamos testes de duas metodologias diferentes: o System Usability Scale (SUS) e o Diferencial Semântico (DS). Grosso modo, o teste SUS trata de classificar, com uma escala de cinco posições entre “concordo totalmente” a “discordo totalmente”, uma série de assertivas sobre o produto e a experiência de uso. Já o DS propôs pares de adjetivos antagônicos, onde cada par é composto por um elemento de valor negativo e outro positivo, e o usuário deve julgar o produto a partir desses adjetivos, atribuindo um valor entre 1 a 10 para cada par, sendo 1 o valor mais próximo do aspecto negativo e 10 o mais próximo do positivo.
Os testes mostraram que os usuários estavam mais insatisfeitos com o tipo de material utilizado, com as dimensões do objeto, e com a forma de manipulação e a posição da mão durante o uso. Também evidenciou problemas na percepção do usuário sobre o produto, uma vez que o teste DS teve como resultado, em sua maioria, os adjetivos de atribuição negativa, como “anti-higiênico”, “indesejável”, “repulsivo” e "não ergonômico”, como pode ser visto na tabela abaixo. 
PERSONA
A persona foi criada a partir de dados extraídos de algumas entrevistas com usuários. Utilizamos as características de Helena, principalmente suas dores e metas, para elaborar o conceito do projeto.
◆    CONCEITO   ◆​​​​​​​
Considerando os testes de usabilidade e as características da persona, a equipe definiu as diretrizes e o material que seria utilizado para a confecção do produto. Optamos por fazer o corpo do abridor com madeira de eucalipto por ser um material resistente, bonito e que poderia ser modelado em um formato muito confortável.
As diretrizes do projeto foram:
           deve atender uma usuária que tem pequenas limitações de força;
           ter um formato que facilite a manipulação e não exija tanto esforço;
           ser seguro e confortável;
           ser esteticamente diferente dos abridores comuns;
           ser um objeto que se destaque na cozinha e/ou área de churrasco e;
           possuir a função de abrir garrafas.
◆    PROTÓTIPO   ◆
Fizemos alguns sketches norteados pelas diretrizes do projeto. Depois partimos para alguns modelos em madeira sem qualquer acabamento e medida para entender o material e a lâmina. Voltamos aos sketches e, por fim, nos inspiramos no formato de uma plaina para fazer o corpo do abridor e alteramos completamente a forma de segurá-lo, aproximando-o de um joystick. Após definirmos o desenho, fizemos a modelagem 3D e, só então, produzimos o protótipo.
A produção foi feita no Laboratório de Materiais e Processos da UNESP, utilizando madeira de eucalipto, lâmina de um outro modelo de abridor, arruela, parafuso e imã. A peça foi feita com três blocos de madeira colados com cola branca que, após a secagem, foi modelado, lixado e tratado com seladora para proteger contra a umidade a que possa ser exposto durante o uso. Para abrir as garrafas, montamos um sistema simples com uma arruela, com a função de retirar a tampa, e um imã para segurar a tampa e evitar que ela caia no chão.
Bloco recebendo o desenho do abridor
Bloco recebendo o desenho do abridor
Bloco de eucalipto sendo cortado na serra de bancada
Bloco de eucalipto sendo cortado na serra de bancada
Bloco sendo modelado com lixadeira circular
Bloco sendo modelado com lixadeira circular
Espaço do imã sendo lixado com retífica
Espaço do imã sendo lixado com retífica
◆    VALIDAÇÃO  ◆
TESTES DE USABILIDADE NO PROTÓTIPO
Com o protótipo pronto, executamos novamente os mesmos testes que foram aplicados ao abridor comum. O objetivo era verificarmos se o projeto realmente apresentava melhorias significativas e relevantes tanto para a experiência de uso quanto para o usuário e, também, pudéssemos obter valores que facilitassem a comparação entre os dois objetos.
A análise dos dois testes demonstrou que houve uma melhora considerável na percepção do produto. O teste de Diferencial Semântico (DS) apresentou melhorias importantes, já que, dos doze pares de adjetivos, houve aumento na pontuação e alteração de adjetivo em sete desses pares. O teste demonstrou que o protótipo foi percebido como higiênico, anatômico, atraente, ergonômico, sustentável, elaborado e desejável. Todos esses adjetivos, para o teste, tinham uma atribuição positiva, e se opuseram aos adjetivos escolhidos para o abridor comum, que eram todos de atribuição negativa, como pode ser visto na tabela comparativa abaixo. Entretanto, dois adjetivos negativos apareceram nos testes dos dois objetos, que foram “sério” e “excludente”, ambos com uma atribuição negativa.
O teste System Usability Scale (SUS), por sua vez, mostrou que, das dez questões, seis obtiveram melhores pontuações quando comparadas ao teste com o abridor comum e, na média geral, houve um aumento de 11% em relação à média obtida no teste do abridor comum. As outras quatro questões tratavam sobre o design formal do produto, sua forma de manipulação, seu formato e a facilidade de utilizá-lo. A equipe previa que esse aspecto não seria tão bem avaliado, visto que o corpo do abridor e sua pega foram completamente modificados, o que já indica um ponto de atenção para o aprimoramento do protótipo.

As respostas deste tipo de teste são convertidas em valores para facilitar a análise e tomada de decisão. Abaixo está a tabela com as perguntas e os valores obtidos em ambas as rodadas de testes. A primeira coluna se refere ao abridor comum, já a segunda se refere ao protótipo produzido pela equipe.
QUESTIONÁRIO COM USUÁRIOS
Um questionário com cinco perguntas foi aplicado para dois usuários, de modo que a equipe pudesse avaliar com mais detalhes a experiência de uso. As cinco perguntas foram as seguintes:
1. Foi difícil perceber qual lado usar para abrir a lata? Foi intuitivo?
2. O abridor (lata e garrafa) é confortável?
3. O produto te atrai? Você compraria?
4. O tamanho do abridor é um ponto positivo ou negativo?
5. O que você alteraria?
As respostas foram muito positivas. O formato, a aparência e o conforto durante o uso foram elogiados. Houve comentários sobre a dificuldade de se usar o abridor de latas e sobre o produto parecer luxuoso e caro, tornando-o inacessível a alguns usuários.
◆    CONCLUSÃO   ◆
A validação evidenciou aspectos do projeto que poderiam ser melhorados numa próxima versão do protótipo como, por exemplo, tornar mais intuitiva sua forma de utilização, mas, como não estava no escopo das disciplinas, acabamos encerrando o projeto nessa primeira versão do protótipo. Apesar disso, ter desenvolvido esse projeto seguindo a metodologia Double Diamond e ter tido a oportunidade de aplicar testes de usabilidade, tanto na etapa de pesquisa, quanto na etapa de validação, foram muito importantes para nos mostrar como um projeto de design se beneficia e se enriquece quando se volta para as necessidades dos usuários. 
Projeto desenvolvido por Erica Tobaro, Marina Tomiatti e Mirela De Giuli
UNESP/Bauru - 2017 


Link para artigo publicado no 16o Ergodesign 
(Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano Tecnológicas) 
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